Queimada
Queimada é uma prática primitiva da agricultura, destinada principalmente à limpeza do terreno para o cultivo de plantações ou formação de pastos, com uso do fogo de forma controlada.
Destruição ambiental
O efeito mais notório da queimada é a destruição do ambiente. Na floresta amazônica no mês de agosto de 1988 foram queimados por dia cerca de mil quilômetros quadrados de mata, quando agricultores limpam os terrenos para o cultivo. A poluição gerada pelas queimadas da amazônia, era estimada como o equivalente ao lançado na atmosfera pela cidade de São Paulo nos últimos setenta anos.As queimadas no Brasil
Ao contrário do que preconizam os estudiosos e pessoas que, como Monteiro Lobato, abordaram a prática como um legado nocivo dos índios, as queimadas que estes realizaram ao longo de cerca de doze mil anos de sua presença nas atuais terras do Brasil mantiveram a natureza em equilíbrio - o que deixou de ocorrer, entretanto, com a incorporação da limpeza do terreno pelo fogo à cultura europeia introduzida a partir de 1500: a divisão da terra em propriedades, o cultivo monocultor etc., que dizimaram a flora nativa. As queimadas atingem diretamente os animais silvestresO manejo dos índios não era baseado apenas no fogo: a formação das roças em locais escolhidos permitia a interação com a natureza circundante, sua preservação, obtendo em troca a caça e a proteção contra pragas. Algo que foi perdido, como constatou Darcy Ribeiro, ao afirmar: "Assim passaram milênios até que surgiram os agentes de nossa civilização munidos, também ali, da capacidade de agredir e ferir mortalmente o equilíbrio milagrosamente logrado por aquelas formas complexas de vida"
Relatório feito em 1982 da Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar a devastação da floresta amazônica, instalada em 1979, segundo dados fornecidos pelo pesquisador José Cândido de Melo Carvalho, informava que a queimada era o principal problema inerente ao desmatamento na região. Dentre outros danos, está a destruição quase que total da fina camada (de 30 a 40 centímetros) de matéria orgânica superficial. Acentua-se que a prática, então, muitas vezes não era acompanhada da proteção de aceiros, o que agrava seus efeitos danosos.
O mesmo pesquisador informou que "além de diminuir os processos de oxidação e transformação dos nutrientes normais, pela diminuição da vida microbiana, o fogo destrói também sementes, plantas jovens, raízes, eliminando vegetais que comumente não terão possibilidade de sobrevivência na área, a não ser por reintrodução posterior, através do homem, animais ou agentes físicos."
Aspectos positivos
O pesquisador Nilton José Sousa defende que, em circunstâncias controladas e observados cuidados referentes a clima, tipo de solo e outros, o uso do fogo pode ser benéfico como trato cultural. Acentua que em diversos ambientes os incêndios fazem parte do ecossistema, e que os prejuízos à fauna são relativos, havendo nalguns casos aumento das populações em áreas queimadas.Nas artes
Ainda no século XIX o poeta Castro Alves deixava pungente relato da prática, a destruir a natureza, no poema intitulado justamente A queimada, parte do fragmento de Os Escravos denominado pelo autor de A Cachoeira de Paulo Afonso (excerto, em domínio público):
A queimada! A queimada é uma fornalha! A irara — pula; o cascavel — chocalha...
(...)
Então passa-se ali um drama augusto... N'último ramo do pau-d'arco adusto
Também Batista Cepelos deixou versos que registram em "cores" dramáticas as cenas do incêndio nas matas, no poema também intitulado A Queimada (excerto, em domínio público):-
- Raiva, espuma o tapir!
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- Vão trêmulos se unir!
(...)
Então passa-se ali um drama augusto... N'último ramo do pau-d'arco adusto
-
- O jaguar se abrigou...
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- E tudo se acabou!...
Rolando o círculo do aceiro, fulvo, colérico e ligeiro, o fogo avança em pelotão... Perpassa um frêmito de medo desde as cumeadas do rochedo até o recôncavo grotão.
(...)
E, esgrouvinhada, rija e pasma, como um tetérrimo fantasma, de retorcidos braços nus, aquela triste árvore eleva os galhos secos para a treva, no desamparo de uma cruz.
(...)
E, esgrouvinhada, rija e pasma, como um tetérrimo fantasma, de retorcidos braços nus, aquela triste árvore eleva os galhos secos para a treva, no desamparo de uma cruz.
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