sexta-feira, 15 de junho de 2012

O que é Queimada

Queimada


Incêndio florestal derivado de queimada.
Antônio Cruz/ABr.
Queimada é uma prática primitiva da agricultura, destinada principalmente à limpeza do terreno para o cultivo de plantações ou formação de pastos, com uso do fogo de forma controlada.

Destruição ambiental

O efeito mais notório da queimada é a destruição do ambiente. Na floresta amazônica no mês de agosto de 1988 foram queimados por dia cerca de mil quilômetros quadrados de mata, quando agricultores limpam os terrenos para o cultivo. A poluição gerada pelas queimadas da amazônia, era estimada como o equivalente ao lançado na atmosfera pela cidade de São Paulo nos últimos setenta anos.

As queimadas no Brasil

Queimadas são um dos problemas ainda presentes na agricultura brasileira.
Ao contrário do que preconizam os estudiosos e pessoas que, como Monteiro Lobato, abordaram a prática como um legado nocivo dos índios, as queimadas que estes realizaram ao longo de cerca de doze mil anos de sua presença nas atuais terras do Brasil mantiveram a natureza em equilíbrio - o que deixou de ocorrer, entretanto, com a incorporação da limpeza do terreno pelo fogo à cultura europeia introduzida a partir de 1500: a divisão da terra em propriedades, o cultivo monocultor etc., que dizimaram a flora nativa. As queimadas atingem diretamente os animais silvestres
O manejo dos índios não era baseado apenas no fogo: a formação das roças em locais escolhidos permitia a interação com a natureza circundante, sua preservação, obtendo em troca a caça e a proteção contra pragas. Algo que foi perdido, como constatou Darcy Ribeiro, ao afirmar: "Assim passaram milênios até que surgiram os agentes de nossa civilização munidos, também ali, da capacidade de agredir e ferir mortalmente o equilíbrio milagrosamente logrado por aquelas formas complexas de vida"
Relatório feito em 1982 da Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar a devastação da floresta amazônica, instalada em 1979, segundo dados fornecidos pelo pesquisador José Cândido de Melo Carvalho, informava que a queimada era o principal problema inerente ao desmatamento na região. Dentre outros danos, está a destruição quase que total da fina camada (de 30 a 40 centímetros) de matéria orgânica superficial. Acentua-se que a prática, então, muitas vezes não era acompanhada da proteção de aceiros, o que agrava seus efeitos danosos.
O mesmo pesquisador informou que "além de diminuir os processos de oxidação e transformação dos nutrientes normais, pela diminuição da vida microbiana, o fogo destrói também sementes, plantas jovens, raízes, eliminando vegetais que comumente não terão possibilidade de sobrevivência na área, a não ser por reintrodução posterior, através do homem, animais ou agentes físicos."
As queimadas também podem ser utilizadas no perimetro urbano. Na imagem, oJardim São José, um dos bairros mais novos de Goiânia durante uma pequena queimada em 2010.

Aspectos positivos

O pesquisador Nilton José Sousa defende que, em circunstâncias controladas e observados cuidados referentes a clima, tipo de solo e outros, o uso do fogo pode ser benéfico como trato cultural. Acentua que em diversos ambientes os incêndios fazem parte do ecossistema, e que os prejuízos à fauna são relativos, havendo nalguns casos aumento das populações em áreas queimadas.

Nas artes

Ainda no século XIX o poeta Castro Alves deixava pungente relato da prática, a destruir a natureza, no poema intitulado justamente A queimada, parte do fragmento de Os Escravos denominado pelo autor de A Cachoeira de Paulo Afonso (excerto, em domínio público):
A queimada! A queimada é uma fornalha! A irara — pula; o cascavel — chocalha...
Raiva, espuma o tapir!
... E às vezes sobre o cume de um rochedo A corça e o tigre — náufragos do medo —
Vão trêmulos se unir!

(...)

Então passa-se ali um drama augusto... N'último ramo do pau-d'arco adusto
O jaguar se abrigou...
Mas rubro é o céu... Recresce o fogo em mares... E após... tombam as selvas seculares...
E tudo se acabou!...
Também Batista Cepelos deixou versos que registram em "cores" dramáticas as cenas do incêndio nas matas, no poema também intitulado A Queimada (excerto, em domínio público):
Rolando o círculo do aceiro, fulvo, colérico e ligeiro, o fogo avança em pelotão... Perpassa um frêmito de medo desde as cumeadas do rochedo até o recôncavo grotão.
(...)

E, esgrouvinhada, rija e pasma, como um tetérrimo fantasma, de retorcidos braços nus, aquela triste árvore eleva os galhos secos para a treva, no desamparo de uma cruz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário