O cultivo da cana-de-açúcar sempre foi um vilão para os ambientalistas. Eles alegam que, por se tratar de uma monocultura em grande escala, desgasta rapidamente grandes extensões territoriais. Além, claro, da prática da queimada, que aumento o acúmulo de gases do efeito estufa na atmosfera.
“A monocultura não tem rodízio no solo, só isso já faz esgotar os nutrientes. O solo submetido a queimadas provoca a mudança de PH e a drástica redução da umidade. Em áreas como a do norte fluminense, com a prática da monocultura e de queimadas, o desgaste do solo só é suprido com a reposição de insumos agrícolas, orgânicos ou químicos, o que encarece a produção”, afirma Gilberto Pessanha, do departamento de Engenharia Cartográfica da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e professor do departamento de Análise Geoambiental da UFF (Universidade Federal Fluminense).
Seus cálculos dizem que o solo, sem a utilização de insumos químicos, leva mais de quinze anos para se recuperar das queimadas. Por isso amecanização gera melhorias ambientais significativas. “Interromper a queimada facilita a colheita, é uma atitude inteligente. A palha que deixa de ser queimada passa a ter um importante papel na fertilização natural do solo. “É um rico adubo que, naturalmente, auxilia no processo de produção”, diz Pessanha.
Os caminhões utilizados no transporte da cana cortada pelos “dinossauros” mecânicosprecisam ser fechados. A cana fica em tamanho uniforme de trinta centímetros, o que dificultaria seu manuseio em caminhões abertos, que tradicionalmente eram utilizados para levar a produção até as usinas, atravessando as estradas do País.
Outros ganhos vêm no estágio do processo de mecanização, com a criação de empregos mais qualificados, voltados para o uso de máquinas, armazenamento e transporte de escoamento da produção da cana. “Cabe às autoridades e usinas a responsabilidade de qualificar esta mão-de-obra para ser absorvida em outros setores. O que já vem ocorrendo em alguns lugares é que se está qualificando funcionários para serem aproveitados como operadores de máquinas. Mas claro que não serão todos”, afirma o engenheiro agrônomo Guilherme Marins.
Não será o fim das queimadas
Ainda que a mecanização avance a passos largos, tanto os usineiros quanto os especialistas em meio ambiente não creem que se esteja entrando numa fase totalmente “limpa”. O secretário de Agricultura de Campos aponta que o desafio atual é atender as pequenas propriedades rurais, aonde a mecanização ainda é bastante tímida. “O Estado do Rio, diferentemente de Goiás ou de São Paulo, outros importantes centros de produção, tem como característica os minifúndios antigos, herdados em família. Isso nos cria um problema porque é caro comprar máquinas para investimento nestas terras. Aí está o gargalo, no atendimento desse maquinário a pequenos agricultores. Eles só se manterão se formarem cooperativas”, afirma Eduardo Crespo.
Há também um aspecto técnico que as colheitadeiras-dinossauros não atendem. Elas não fazem curvas, daí o desenho das plantações obedecer a linhas extremamente retas. Solos desnivelados e encostas também não são aptos. Técnicos agrícolas explicam que o desenho da plantação no solo deve bem específico, obedecendo linhas retas e em terreno sem declives. O canavial precisa ser linear-retangular, com cumprimentos de 500 a 700 metros.
Pelos cálculos da Coagro (Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio), só em 2025 o estado vai alcançar 100% de colheita mecanizada. “A grande dificuldade é que os canaviais devem ser projetados para tal finalidade. Entretanto ainda será preciso um tempo para que possamos renovar os velhos canaviais dentro dos padrões para colheita mecanizada”, diz Guilherme Marins, engenheiro da Coagro.
Nestes casos, uma lei estadual autoriza a queimada em canaviais de forma controlada em pequenas áreas ou locais com morro onde a colheita mecanizada não pode chegar, desde que sob autorização do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). “A fiscalização das queimadas será muito mais rígida neste ano. Os produtores que, porventura, descumprirem qualquer etapa do procedimento exigido pela lei podem responder por crime ambiental e ser multados”, afirma Renê Justen, superintendente do Inea.
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